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Mercado de seguros e resseguros se mantém otimista para 2021

9 de agosto de 2021

Influenciado pela pandemia de COVID-19, 2020 foi um ano de grandes mudanças em todas as áreas da economia. Nesse cenário, o mercado de seguros e resseguros foi afetado de uma maneira não linear: de forma positiva para alguns produtos e linhas de negócio e negativa para outros. A crise sanitária mudou radicalmente as necessidades, hábitos e expectativas dos consumidores e funcionários do setor. Ao mesmo tempo, atraiu a virtualização das operações das seguradoras no Brasil, praticamente, da noite para o dia.

Embora a maioria dos profissionais tenha se adaptado com agilidade, as seguradoras provavelmente ainda enfrentarão alguns obstáculos para o crescimento e a lucratividade plena nos próximos anos, a depender de seus próprios posicionamentos de mercado e da abertura regulatória. Em vários setores, o crescimento contínuo terá influência do aumento da demanda nos mercados emergentes.

Mercado de seguros e resseguros: reflexos da pandemia

Os seguros de vida são os maiores cases neste mercado. Devido à noção de proximidade da morte trazida pela pandemia, houve um aumento considerável em suas contratações. Ao mesmo tempo, a sinistralidade foi altíssima, já que a COVID-19 não estava dentro da tábua de mortalidade. Segundo dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep), em abril deste ano, a sinistralidade atingiu o valor de 97,3%, o maior já registrado desde 2015 e que corresponde a mais do que o dobro da observada em abril de 2020, quando foi de 42,5%. O seguro de vida em grupo foi um dos responsáveis por esse aumento, passando de 45,4% em abril de 2020 para 102,3% em abril de 2021.

Em alguns players do mercado de seguros, o reflexo foi sentido no aumento dos seus preços, já que ficou mais difícil contratar com o alto risco de insolvência. Como é o caso do D&O (Directors and Officers), que de uma maneira geral encareceu. Por um lado, para as seguradoras no Brasil esse cenário foi bom, já que elas saíram de um soft marketing, para um hard marketing. “A pandemia mostrou a resiliência do mercado de seguros, porque ele continuou crescendo mesmo com todas essas oscilações e obteve um ano total de crescimento, na contramão de muitos setores da economia. O que é uma característica muito própria do mercado de seguros brasileiro”, comenta Marcia Cicarelli, sócia da área de Seguros e Resseguros do Demarest.

Como as lições emergentes podem servir de catalisador para a transformação?

Um dos pontos positivos de 2020 para o mercado de seguros e que impactou seu crescimento foi a abertura trazida pela ação governamental e pela agilidade da Susep. Ao reavaliar todos os normativos infralegais e simplificá-los, os reguladores abriram espaço para gerar novos seguros no mercado e mais competição. Um exemplo claro disso foi a aprovação do modelo do Sandbox regulatório, uma iniciativa que permite que instituições já autorizadas e ainda não autorizadas testem projetos inovadores com clientes reais, desde que dentro dos requisitos regulatórios específicos.

“Realmente observamos novos players sendo trazidos para o mercado e totalmente focados em tecnologia, que é um dos requisitos essenciais para as empresas terem a autorização do Sandbox”, completa Luciana Prado, sócia da área de Seguros e Resseguros do Demarest. Ela também aponta como parte do crescimento o fato de alguns desses seguros terem valores de importância segurada e prêmios menores, ou seja, uma clara intenção de capilaridade maior na tentativa de atingir um número amplo da população.

Tais avanços regulatórios agem como um passo para trás no sentido de desregulamentar o mercado de seguros em prol de um ambiente experimental, mas com mais espaço para a inovação, maior concorrência, aumento da visibilidade digital e da transparência. Em suma, a Susep deu liberdade para as seguradoras criarem produtos mais alinhados com as novas exigências do mundo. “O mercado de seguros, por mais incrível que pareça, é avesso a riscos diferentes dos tradicionalmente aceitos no mercado. O Sandbox vai na contramão desse pensamento e direciona as seguradoras tradicionais no caminho da mudança ou da perda de espaço no mercado”, conclui Cicarelli.

Resiliência, relevância e reinvenção

No Brasil, há um caminho interdependente para o mercado de seguros. Ao mesmo tempo que o seguro está intimamente ligado à capacidade de poupança, assim como qualquer bem de consumo, a percepção de risco cada vez mais latente proveniente do progresso da civilização e de seus riscos mais gravosos, acaba por criar uma busca natural de proteção por parte de pessoas físicas e jurídicas. Porém, este cenário depende da estabilidade econômica. É difícil pensar em proteção de risco quando não se tem o básico garantido.

Ainda assim, para as especialistas Cicarelli e Prado, o que vai determinar se esse mercado seguirá com bons números é a modernização e a mudança de mentalidade das seguradoras no Brasil, que precisam se tornar mais digitais e proverem verdadeiras experiências de consumo, aproximando-se do seu público. Atualmente, a população só se lembra do setor nos momentos de infortúnio, o que limita, e muito, a atuação das seguradoras.

Estes são os pilares para olhar 2021 e além. Um exemplo desse ambiente é o rápido crescimento da penetração da internet e aumento dos riscos associados ao uso dela para transações críticas ter impulsionado a demanda pelo seguro cibernético. Assim como no seguro de saúde, a telemedicina e outras urgências, impulsionaram tratativas de discussões com os reguladores para pensar produtos mais flexíveis. Neste setor, os passos são mais lentos, porém, a revisão foi notada. As palavras de ordem são resiliência, relevância e reinvenção.


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